A maior parte dos erros na utilização de medicamentos é potencialmente evitável. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2014, os erros de medicação de forma geral correspondiam a 30% dos erros em hospitais. Na atenção primária, é a principal causa de eventos adversos, principalmente em crianças e idosos.
O assunto também é tema de preocupação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que em 2017 lançou o desafio global pelo uso seguro de medicamentos. Segundo a OMS, mais de 50% de todos os medicamentos são incorretamente prescritos, dispensados e vendidos; e mais da metade dos pacientes que os utilizam o fazem incorretamente.
Esses erros podem ser causados por diferentes fatores que potencialmente interferem na prescrição, na dispensação, na administração, no consumo e no monitoramento de medicamentos, o que pode ocasionar sérios prejuízos para a saúde e até mesmo a morte.
Relação profissional de saúde-paciente e a receita
Parte dos princípios básicos do relacionamento profissional de saúde-paciente envolve transmitir segurança e confiança para adesão a qualquer intervenção em saúde e, consequentemente, adesão as condutas descritas na receita. É necessária transparência na prescrição, com esclarecimentos e disponibilidade do profissional diante de possíveis reações adversas e erros. Por isso é fundamental, que pacientes e profissionais de saúde conversem abertamente sobre o uso de medicamentos, esclarecendo dúvidas, identificando potenciais interações medicamentosas e riscos envolvidos, bem como os benefícios de usar qualquer medicamento que venha a ser necessário.
O paciente, família ou cuidadores são a última barreira para a prevenção dos erros de medicação. É preciso, portanto, investir na educação do paciente, procurando que este tenha um bom conhecimento sobre seus problemas de saúde e os medicamentos que faz uso.
Fique atento às diferentes informações contidas em sua receita e peça esclarecimentos em relação aos aspectos que você não compreender. Sua compreensão é fundamental para o sucesso do tratamento.
Para que servem os medicamentos?
Os medicamentos podem ser usados na prevenção, no diagnóstico, no tratamento de doenças e, também, no controle de sinais/sintomas, como dor, por exemplo. A administração dos medicamentos pode acontecer em diferentes lugares: em casa, em clínicas e ambulatórios, no hospital e também na farmácia. A sua utilização deve ser sempre feita com orientação de um profissional de saúde especializado, já que o uso incorreto pode trazer sérios danos à saúde.
Uso adequado de medicamentos
De acordo com a OMS, o uso adequado de medicamentos acontece quando os pacientes recebem os medicamentos apropriados à sua condição de saúde, em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período de tempo adequado e ao menor custo possível para eles e sua comunidade (OMS, Conferência Mundial Sobre Uso Racional de Medicamentos, Nairobi, 1985).
Recomendações ao paciente
Procure sempre utilizar qualquer medicamento com a orientação de um médico, dentista, farmacêutico ou outro profissional de saúde!
Durante a Consulta
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Informe ao profissional de saúde TODOS os medicamentos que você usa, inclusive os naturais (fitoterápicos), vitaminas e anticoncepcionais, pois o uso simultâneo de diferentes medicamentos pode interferir no seu efeito e segurança.
- Informe sobre qualquer reação desagradável que você já experimentou ao usar algum medicamento (tonturas, manchas na pele, insônia, dores de cabeça e outros).
- Informe se você é alérgico a algum medicamento ou substância (dipirona, sulfas etc.), assim como se é portador de alguma doença (hipertensão, diabetes, etc.). É importante que as mulheres grávidas ou que estão amamentando informem ao profissional, pois alguns medicamentos podem ser contraindicados.
- Relate ao profissional de saúde outros hábitos que podem interferir no uso do medicamento, como por exemplo o uso de bebidas alcóolicas e fumo.
- Importante: Relate se tem problemas para engolir cápsulas ou comprimidos, assim o profissional poderá selecionar, por exemplo, o medicamento em forma líquida, caso exista a apresentação no mercado.
- Alguns medicamentos possuem nomes com grafia ou som semelhantes. Sempre que receber uma receita de um profissional de saúde certifique-se que a letra está legível. Em caso de dúvida, pergunte!
- Nunca se esqueça que além dos medicamentos, o tratamento também é composto por mudanças nos hábitos de vida (como alimentação, atividade física, sono, postura corporal, combate do estresse etc.). Pergunte ao profissional que cuida de você quais são elas.
Tratamento medicamentoso: Perguntas que você pode fazer durante a consulta:
- Como se fala/soletra o nome do medicamento indicado?
- Qual a dose a ser utilizada em cada tomada diária?
- Quantas vezes ao dia devo usar cada dose?
- Por quanto tempo devo usar o medicamento?
- Como devo tomar ou usar? Antes, durante ou após as refeições?
- Em quanto tempo começa a ter resultados?
- Que efeitos colaterais /riscos podem trazer?
Pacientes, a escrita legível na prescrição é uma obrigação prevista em lei. Exija na sua receita a letra legível!
Depois da Consulta
Na Farmácia:
Compre sempre seus medicamentos em farmácias legalizadas! O comércio de medicamentos em lojas de conveniência, padarias, academias e ambulantes não é permitido e você não terá garantias da procedência do produto.
- Existem medicamentos que podem ser vendidos sem receita, como os analgésicos, antigripais, entre outros, mas isso não significa que eles não possam trazer riscos à sua saúde. Evite a automedicação! Mesmo medicamentos vendidos sem receita podem causar intoxicação!
- Ao comprar/receber o medicamento, confira se é de fato o que foi receitado para você.
- Fique atento à validade do medicamento, antes de adquiri-lo. Não compre medicamentos com prazo de validade vencido.
- Verifique o registro do medicamento na ANVISA/Ministério da Saúde. Esse registro está na embalagem. Somente utilize medicamentos registrados.
- Não compre ou aceite medicamentos que estejam com a embalagem aberta, com o lacre rompido, com o rótulo borrado ou apagado.
- Importante: Solicite ao farmacêutico orientações sobre como guardar o medicamento. Luz, umidade e calor devem ser evitados no armazenamento. Não armazenar medicamentos no banheiro, cozinha ou outro lugar onde o sol bate diretamente ou ambientes quentes.
- Se você não tiver certeza sobre como usar seu medicamento, pergunte quantas vezes forem necessárias. Por exemplo, algumas pessoas têm dificuldades para utilizar os dispositivos inalatórios de asma. Ao comprar esses medicamentos solicite ao farmacêutico que faça a demonstração da forma correta de utilizá-los.
- Se achar que terá dificuldade em recordar quando tomar os seus medicamentos, peça ao seu farmacêutico que lhe escreva as doses a serem tomadas a cada horário diário.
Em Casa:
Não use medicamentos indicados por outras pessoas: como amigos, vizinhos, parentes ou o balconista da farmácia. Cuidado! Doenças diferentes podem ter sintomas parecidos ou até iguais, mas usar medicamento sem recomendação de um profissional de saúde pode ser prejudicial a sua saúde!
Caso você faça uso de mais que três medicamentos, algumas dicas podem ajudá-lo:
- Atenção: Antes de começar a usar o medicamento, leia a receita médica com atenção.
- Faça uma lista: anote todos os medicamentos, com o nome e quantidade de cada um. O farmacêutico pode te auxiliar nesse processo. Nunca altere a dose diária recomendada!
- Tome seus remédios na quantidade indicada, nos horários certos e pelo número certo de dias. Na dúvida, consulte o profissional de saúde que fez a prescrição.
- Importante: Se você é um paciente portador de alguma doença crônica, que exige uso continuado de um ou mais medicamentos não interrompa o tratamento sem o conhecimento de quem prescreveu!
- Comprometa-se a fazer o tratamento completo, não suspenda o uso porque teve melhora dos sintomas. Os medicamentos precisam ser tomados por todo o tratamento indicado, principalmente durante o uso de antibióticos e outros medicamentos de uso controlado.
- Caso tenha dificuldade em organizar a rotina de utilização diária de seus medicamentos, solicite ajuda dos farmacêuticos. Algumas farmácias oferecem dispositivos que auxiliam o paciente nesta organização e favorecem a adesão ao tratamento.
- Observe os seus sintomas e se você tem sentido alguma alteração após o início do uso do medicamento, como coceiras, tontura, dores de cabeça, alteração de humor, etc… E comunique ao profissional de saúde que o prescreveu.
- Não corte o remédio ao meio ou abra as cápsulas, fazer isto pode reduzir o seu efeito e, posteriormente, dificultar sua identificação.
- Evite a ingestão de bebidas alcóolicas; medicamentos e álcool são uma combinação que merece atenção, e deve ser evitada.
- Mantenha seus medicamentos em local protegido. De preferência os mantenha em sua própria embalagem e com a bula. É importante manter os medicamentos longe do alcance de crianças e animais domésticos, para evitar acidentes.
Descarte dos medicamentos
- Não jogue sobras de medicamentos após o uso no lixo comum, na pia ou no vaso sanitário. Isso é incorreto. Os resíduos das substâncias podem contaminar o solo e água quando descartados dessa forma.
- Além disso, quando jogamos medicamentos no lixo comum, eles podem ser utilizados por pessoas que trabalham em lixões, ocasionando intoxicações e até a morte.
- Para jogar fora o medicamento, o ideal é entregá-lo em um posto de coleta. Muitas farmácias, drogarias e unidades básicas de saúde oferecem esse serviço. Para identificar se em sua cidade possui algum posto de coleta, um dos sites que dispõe dessa informação é http://www.descarteconsciente.com.br/